sexta-feira, 13 de março de 2009

Violência na intimidade: Violência escondida?

“…A violência doméstica é um problema legal, económico, educacional, de desenvolvimento, de saúde e, acima de tudo, é uma questão de direitos humanos”.[1] As Nações Unidas (Declaração sobre Direitos Humanos) assinalam este fenómeno como global, com características semelhantes em países cultural e geograficamente distintos.

Apesar de atingir igualmente as crianças, os idosos, pessoas dependentes ou cidadãos portadores de deficiência, a realidade indica que as mulheres continuam a ser um dos grupos mais vulneráveis a este tipo de violência que ocorre na intimidade das relações e do espaço doméstico. “A violência contra as mulheres no espaço doméstico é a maior causa de morte e invalidez entre mulheres dos 16 aos 44 anos, ultrapassando o cancro, acidentes de viação e até a guerra”[2].

Este fenómeno está radicado num sistema de crenças e valores patriarcais, que têm perpetuado as desigualdades de género. Neste modelo de dominação do homem sobre a mulher, a violência surge como um exercício de poder e controlo assumindo a forma física, psicológica ou sexual.

Num quadro de violência estamos perante pessoas fragilizadas, cuja trajectória pessoal e inserção social estão comprometidas. Para muitas destas vítimas, o impacto psicológico é sentido como o aspecto mais penoso e debilitante. Tende a afectar a sua auto-estima e a aumentar a probabilidade de problemas de saúde mental, como sejam, a depressão, ansiedade, fobias e stress pós-traumático.

Durante muito tempo tolerada e silenciada, a violência contra as mulheres tem hoje uma visibilidade crescente, a qual não se pode dissociar da redefinição do seu papel social feminino. A conquista de uma autonomia económica e emocional é um processo fundamental para que as mulheres possam reagir precocemente aos processos de violência.
A participação cívica dos homens, ao lado das mulheres, na construção de uma cidadania activa e de uma sociedade mais igualitária é fundamental no processo de mudança. Desde logo, na partilha das responsabilidades parentais e na construção de uma dinâmica familiar não violenta que sirva como modelo positivo para futuros relacionamentos das crianças. Por outro lado, promover um relacionamento familiar não conflituante é contribuir para o desenvolvimento de um espaço de autonomia e individuação das crianças e jovens.

Torna-se assim necessário um maior empenho para que a mudança de valores, atitudes e práticas sociais possa acontecer, ou para que o fosso entre o reconhecimento dos direitos e a sua plena assunção seja cada vez menor.

[1] Mehr Khan, Unicef Innocenti Research Centre in Domestic Violence Against Women and Girls, Innocenti Digest, 6, 2000.
[2] Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, Recomendação 1582, 2002

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