quarta-feira, 11 de março de 2009

Violência estrutural, ou a violência do poder

A violência estrutural é, normalmente, entendida como a que resulta do monopólio legal do uso da força pelo Estado (no sentido de sociedade política), de acordo com a sociologia de Max Weber (1864-1920).

Mas a violência estrutural vai muito além dessa sua dimensão institucional, expressa no aparelho repressivo estatal. Ela diz respeito a aspectos como a concentração de rendimentos e riqueza, a falta de acesso a direitos políticos e sociais (como bens e serviços) para amplos segmentos da sociedade, ao desemprego estrutural, massivo e crónico - que atinge, neste momento, em Portugal, mais de 10% da população activa -, à distância que existe entre a Justiça e, mais uma vez, as mesmas classes ou camadas de população mais fracas, empobrecidas e vítimas de uma estrutura brutalmente desigual.

A produção de desigualdade é um ponto essencial e constitutivo da violência estrutural: a nossa sociedade é uma "fábrica" produtora de múltiplas formas de desigualdades, que estão na base de diversos fenómenos sociais, inclusive da violência criminal.

A violência estrutural abrange, portanto, aquelas modalidades de violência socioeconómica, de género, de "raça" ou étnica, subterrâneas, estruturadas por e estruturantes das relações sociais quotidianas: bairros sociais que oferecem más condições de vida e propiciam a marginalização dos seus habitantes, transportes públicos lotados e mal organizados, falta de empregos ou empregos precários, anonimato e isolamento, são só alguns exemplos de situações “violentas” e vivenciadas como violência, que resultam em pessoas stressadas, desesperadas e marginalizadas e que perdem o seu sentido de humanidade num mundo que não as acolhe, não as valoriza, nem as promove. Elas são vítimas da violência estrutural.

Quando começaremos a ter consciência de que o nosso modo de vida também pode produzir discriminação e “violentar” o espaço vital dos outros?

Que (novas) formas de “ser solidário” podemos adoptar para combater a violência estrutural e passar
do medo do outro ao medo pelo outro?

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